Nomes de figuras que ainda hoje existem na minha memória e outros que vão esquecendo. Tantos meus Deus! Muitos saídos a partir de uma côdea de pão de milho com toucinho de porco ou de uma sardinhita assada… milagre que saciava a fome com o pão-nosso de cada dia daqueles que o procuram desde que o sol nasce, até que se volte a por, sobe o peso da enxada com suas mãos calejadas e vergastadas pelos ricos desta terra. Quer chovesse quer nevasse, ou nos Verões quentes que nem o castigo para maiores dos condenados ao inferno, lá tinham de penar vergados a cavar a vinha. A vida nesta terra era muito dura. As pessoas fustigadas por nortadas e trabalhos, vivendo em casas alumiadas à luz de candeias de petróleo ou de azeite, afundadas pelo silêncio do medo doentio das pessoas do poder.
Recordo crianças que morriam quase à nascença, mal viam a luz do mundo. Baptizadas à pressa. Morriam; lá vai mais um anjinho, coitado, vai acolitado até ao cemitério pela pequenada das crianças da Cruzada Eucarística num caixãozinho branco, caldeirinha da água-benta e cruz à frente e o prior da freguesia.
A gente desta terra é religiosa, mas duma religiosidade mais litúrgica do que interior, proselitista porque gostam de ver os outros a professar o seu credo, mas com algum fanatismo. A religiosidade existe nestas gentes como espécie de tradição; é assim porque os seus antepassados foram assim, (chama-se religião sem fé). Encaram o céu como uma vinha que exige certos cuidados, e muito tino, se querem ter os seus pecados perdoados.
A superstição desta gente é como os cogumelos que se desenvolvem no tronco das velhas árvores e são gelatinosos e nada de peçonhentos.
A vida social desta terra acaba sempre reduzida a cerimónias de Igreja. Qualquer prática profana acaba sempre em água-benta, votos, romarias e arraiais, espraiando-se o instinto tiranizante onde não falta a sociabilidade e confraternização. O Penajoiense, não desassocia o religioso do social, faz parte da índole das gentes beirãs, porque o seu optimismo é saudável e é uma pedra basilar das mais imagináveis tertúlias.
É uma gente dotada de coração paciente, são mais sofredores que sofridos. Se está em jogo a sua dignidade ou o que julga ser direito, ei-lo assanhado, como o atestam as memórias lendárias dos livros velhos.
O povo de Penajóia sempre gostou muito de romarias. Os santuários de destino preferidos são, desde longe, os de Nª. Sª da Lapa, Nª Sª dos Remédios e Santuário de Fátima na Cova da Iria.
Fr. José Jesus Cardoso, OFM.
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