sábado, 29 de setembro de 2007



PENAJÓIA TINHA RAZÃO
(Dizem os livros e papeis velhos)


Andava o povo da Penajóia muito descontente com o administrador do açougue da sua freguesia porque este, não só o roubava no peso da carne, como a não fornecia nos dias a que se comprometera fazê-lo. Os moradores já tinham feito sentir a sua mágoa, em 29de Junho de 1825, pela voz do seu procurador, P. Joaquim Pereira Cardoso.
Assim, no dia 6 de Julho daquele ano, foi presente à Câmara de Lamego a balança, a fim de ser examinada pelo competente aferidor, e se ver a diferença que tinha dum gancho para o outro. O senhor Manoel Pinto, perante o Presidente da Câmara e Vereadores, fez o requerido exame. Tirou os ganchos, verificou o fiel dos braços e declarou que ali não havia falsidade; mas, ao colocar os ganchos, disse que havia grande diferença de um para o outro e aplicando-lhe os pesos competentes, afirmou a diferença de onça e meia de um para o outro!
A Câmara, ao constatar o grande roubo que se fazia a todo o povo de Penajóia, logo acordou em que o obrigado do açougue desta freguesia fosse “condenado na quantia de dezoito mil réis pagos da cadeia na forma da lei”.
E , por deixar de dar carne “ nos dias competentes, mesmo a só dar quando queria, no sitio que lhe parecia, deixando de a dar no lugar citado na provisão”, foi ainda condenado em nove mil réis. Mas decidiu a Câmara que o Alcaide “ passa-se logo a fazer esta execução”.
O Juiz e o Povo da freguesia de Penajóia faziam ouvir a sua voz e faziam-lhe justiça, e tomavam-se providências, pedindo o Senado que se apresentassem doze homens capazes, “para cada um deles no respectivo mês fiscalizar a administração do açougue, assistindo ao abate de bois e carneiros, e ao talho das carnes e a fazê-las distribuir com igualdade “...
Deve ter servido de lição porque nos “livros e papéis velhos” não encontrei mais queixas da freguesia de Penajóia...

f.j.Cordeiro Laranjo

Ecos de Penajóia



CAPELA DE S. GIÃO



A PROPOSITO DA CAPELA DE S. GEÃO
(Dizem os Livros e Papeis Velhos)

Aqui há uns duzentos anos, em S. Geão de Penajóia, não se dizia a capela de Nossa Senhora da Encarnação. Era a capela de Nossa Senhora de S. Geão. Ali se iam sepultar os fiéis do lugar, mas os vizinhos da Curvaceira, antes que se fizesse o cemitério, que hoje encontramos ao lado.
Diziam velhos livros, que era capela de muito valor, porque tinha três altares, era a maior depois da paroquial e, até “ superior a muitas outras das nossas egrejas parochiaes”...
Nesta pova de S. Geão houve, em tempos antigos, uma mulher tão rica que, no testamento, mandou que se dissesse pela sua alma treze mil missas! Segundo conta o Doutor Pedro Augusto Ferreira. Mas há mais que contar deste lugar.
Muitas vezes demorámos em S. Geão, e acontecia-nos encontrar a capela sempre fechada. Uma vez, em que andava em obras, foi-nos possível a visita.
Já vimos muitos Santuários, modestos uns, sumptuosos outros. Por isso, não julgávamos que iríamos ficar pasmados. Mas, ficámos! Frente a frete dois altares com o Senhor Crucificado de proporções notáveis, e sensivelmente iguais, como que em concorrência de veneração – o Senhor da Misericórdia e o Senhor dos Milagres...
Aonde chegou a ignorância de velhos antepassados, e a sua negligência do pároco desses tempos?!
Íamos observar aquele “pleonasmo”, achando mais a propósito colocar uma das esculturas no altar-mor, quando uma “sapiente doutora em Teologia, Direito Canónico e em Arte”, nos ameaçou da excomunhão e quase nos “chumbou”, reduzindo-nos à nossa insignificância.
De pronto, fizemos ali solene promessa à Senhora da Encarnação de, pacientemente, sofrermos aquela mágoa “ que certamente naquele lugar a Mãe de Deus também sofre”, quedando-nos no silêncio.
De regresso, pelo caminho pensámos que, por oportuna conveniência, se poderia escrever aquela passagem do sermão da montanha, em termos modernos: Bem-aventurados os pobres em/de espírito.

F. J. Cordeiro Laranjo
(Ecos de Penajóia)

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

V I N D I M A S



VINDIMAS
Falar de vindimas, em termos actuais, é justificar a preocupação que cada agricultor, pequeno, médio ou grande, tem em armazenar o mais rápido possível a sua colheita, para que, com o Verão que se pode prolongar, se obtenha bom grau e boa qualidade de vinho.
Actualmente quase não nos apercebemos desta faina, que sem duvida é das mais belas e das que mais som dava à característica paisagem duriense.
Surgiram as Adegas e deixamos de ver e ouvir determinados pontos que caracterizavam os trabalhos da vindima.
As máquinas quase substituíram os homens, facilitando também os trabalhos mais duros. Tudo está diferente! Recordando a minha meninice, lembra-me de ver e ouvir as coisas que hoje não se vêem nem ouvem. Por vezes acordava ao som das cantigas que as rogas cantavam debaixo das ramadas mais densas de folhagem ou nos bardos mais típicos das encostas. Eram os bombos, os realejos, as concertinas, as flautas, os instrumentos dos grupos de homens que, embalados em cantigas à desgarrada, conduziam os cestos ao lagar.
Á noite faziam-se as «poisas», grupos de homens, por vezes já cansados, que entravam para os lagares a transbordar; em ritmos cadentes cantavam; esquerdo..., direito..., um..., dois... , até altas horas da noite.
Vinham as encubas e apertavam-se as prensas e, uma vez mais, homens e braços apertavam as prensas enquanto que um deles dava a cadencia hou... , hou... , hou... , e, com a força muscular corria a jorro o precioso néctar , para depois , à bomba ou em cântaro à cabeça , cair no afamado tonel de madeira, onde « em dia de S. Martinho todos furavam o pipinho.
Era assim o tempo da vindima, e será pelo continuar dos tempos, se cada um quiser, e se todos contribuírem para a melhoria e conservação dos valores tradicionais.

Fr. José Jesus Cardoso, ofm


 
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