domingo, 20 de junho de 2010

ESCOLA DO MOLEDO

A ESCOLA QUE ME VIU CRESCER.


Que pena tenho de ver o estado ruinoso em que se encontra a escola onde aprendi ler e a escrever! Já desactivada há alguns anos, por falta de crianças.
Era sempre nos primeiros dias de Outubro que a escola iniciava as aulas. Foi em 1951,que ansiosamente, esperei durante todo aquele verão escaldante que afinal, era o dia também aguardado por todas as crianças da minha idade. Todos os anos as aulas começavam dia um de Outubro infalivelmente. Era o primeiro dia de aulas. Sacola às costas e saco da merenda. Subíamos e descíamos os caminhos que nos levavam à Escola do Moledo. Vagarosamente, perplexo e até com algum receio daquele “mundo novo”, mas desejoso de sentir e de conhecer a professora e os novos companheiros.
Nesse dia éramos acompanhados pelas nossas mães para sermos entregues ao zelo, paciência e cuidados da já respeitada professora. A professora de bata branca, aguardava-nos à entrada da escola. Após os cumprimentos habituais uma “festinha”na cabeça das crianças, a professora dava as suas indicações aos pais sobre os horários, faltas, merenda e agasalhos que considerava essenciais. Ouvia os pais sobre os hábitos e temperamento dos futuros alunos. Indicava os livros e material escolar a adquirir. Recomendava vigilância sobre o trabalho de casa. Avisava os pais que tivessem possibilidades, do contributo obrigatório de cinquenta centavos por mês para a “caixa escolar”que havia de servir para compra de material escolar dos alunos mais necessitados e de alguns produtos de consumo na sala de aula.
A conversa terminava quase sempre com uma recomendação dos pais. “Senhora Professora faça o que puder. Se ele se portar mal chegue-lhe a roupa ao pelo”. A professora Maria Orlanda, ria e com um sorriso angélico, disse: “eles vão portar-se bem”. Era ainda bastante jovem, e dava aulas às quatro classes.
Quando entrei na grande e iluminada sala, com cinco janelas voltadas para o rio Douro, vendo passar os clássicos comboios a carvão era uma alegria para a pequenada. As carteiras de madeira, para dois alunos, com tampo inclinado e tinteiro de porcelana branca encrostados, estavam rigorosamente alinhadas. No meio da sala entre elas dois corredores por onde a professora podia livremente andar, vigiar e corrigir os trabalhos dos alunos. Num dos extremos da sala, um grande estrado de madeira formava um plano mais elevado, sobre ele, a secretária da professora em madeira e a cadeira. Do lado esquerdo da secretária o grade quadro negro de ardósia emoldurado a madeira que na parte inferior, terminava numa prateleira, onde alguns pedaços de giz branco, uma esponja de trapo e uma “cana da Índia”que servia de ponteiro no quadro.
À esquerda da secretária quatro mapas pendurados na parede: mapa-mundo, mapa de Portugal continental e Ilhas e mapa do corpo humano.
Ainda por cima do quadro um grande crucifixo, ladeado pelas fotografias de Óscar Carmona, Craveiro Lopes e Dr. António Oliveira Salazar.
Neste ano os alunos aumentaram e as carteiras não chegavam para todos. Tiveram de transferir alunos para a Escola da Torre e Valclaro.
Foi aqui nesta escola do Moledo que “desertei” do analfabetismo e ingressei no mundo dos letrados, com uma cantiga tão simples como o A E I O U. Daqui vieram as bases bem consistentes que depois pude, felizmente, desenvolver. Recordo hoje todo aquele ritual e o ambiente, afinal alegre do primeiro dia de aulas e dou comigo a pensar, estaria tudo mal? Seria necessário mudar tanta coisa que mudou? Estará hoje o mundo escolar como desejaríamos que estivesse? Não terão desaparecido alguns hábitos, regras e valores éticos e sociais que a manterem-se nos trariam uma mais sã e perfeita convivência humana?
Para mim tudo o que me ensinaram, tudo o que vi e ouvi e todo o respeito que me incutiram, foi muito útil pela vida fora. Tão útil que me permitiu hoje “alinhar este escrito”, sem sobressaltos, com respeito por todos e honrar também a memória da minha professora Maria Orlanda, amiga e pedagoga, a quem eu e muitas crianças do meu tempo, estamos hoje muito gratos.
Na verdade o tempo passa tão depressa, que os dias passam à velocidade do sol, mas perante Deus ninguém é esquecido.

Frei José Jesus Cardoso

sexta-feira, 7 de maio de 2010

VISITA DO SANTO PADRE A FÁTIMA

A vinda do Papa a Portugal e a sua permanência entre nós é uma honra para a Igreja Portuguesa e para os cristãos.
Somos uma nação católica que assume a sua laicidade, mas quer continuar a gerir-se por critérios ético a humanos e cristãos.
O Papa vem recordar-nos as nossas profundas raízes na fé e para sermos fiéis a Deus. Vem despertar em nós uma consciência mais viva do ser cristão, que assumimos o evangelho como norma de vida. Vem dar-nos esperança, alegria, semear bondade para vivermos e amarmos.
O Papa é um homem corajoso e audaz, tendo em conta a sua idade já avançada, para as suas deslocações, tem um grande desgaste em discursos e catequeses.
Sua Santidade é um homem de coração amigo e muito delicado. Homem de grande justiça e muito sensível à dor e aos problemas dos outros.
Vamos estar muito atentos porque nos dirá palavras que nos lançaram na meditação e na reflexão para mudarmos as nossas vidas, mentalidades, comportamentos e caminhos de futuro. Saborear as suas palavras e renovar o dom duma vida nova. É disso que todos precisamos.
A Visita do Papa Bento XVI a Portugal são dias grandes alegria que o Povo Português não vai esquecer mesmo os não católicos. Vamos todos ficar mais ricos, mais perto de Cristo, mais concentrados na Igreja de Jesus Cristo.


Fr. Cardoso, ofm.

segunda-feira, 15 de março de 2010

QUARESMA, TEMPO DE REFLEXÃO


Quaresma

Desde as primeiras comunidades cristãs que celebramos todos anos a festa da Páscoa: a morte e a ressurreição de Jesus que também é a nossa. É a maior e mais importante de todas as festas cristãs. Grande demais para ser preparada em três dias ou uma semana. Por isso, a sua preparação leva quarenta dias, a exemplo de Cristo que também preparou a Sua Páscoa em quarenta dias no deserto. Este tempo que é para nós um tempo de reflexão e de graça, começa na quarta-feira de cinzas e vai até quinta-feira santa pela manhã, altura em que é celebrada a Missa Crismal em todas as Catedrais do mundo, com a solene bênção dos Santos Óleos.
Os textos litúrgicos que rezamos durante o tempo da Quaresma são belíssimos e conduzem-nos ao verdadeiro espírito deste tempo, neste caminhar para a Páscoa, seguindo a Jesus Cristo, nosso Mestre e modelo. A Igreja, durante a Quaresma, reabre o caminho do Êxodo, como Abraão e Moisés a caminho da terra prometida onde o Senhor falou do meio da nuvem. Nela, aos pés da montanha, humildemente Moisés fala ao povo para que tome consciência de sua vocação de povo da aliança, de ser povo de Deus.
Por isso, olhando com alegria esses sinais de salvação, o Evangelho é a razão primeira que nos leva a seguir em frente e a servir o Senhor.
Podemos encontrar neste tempo de reflexão a entrega positiva que caracteriza, não só a liturgia deste tempo, mas especialmente a sua teologia, a sua espiritualidade e a sua pastoral. Voltamo-nos para Deus, “Pai Santo, rico em misericórdia”; relembremos a experiência do Êxodo, da Aliança, da libertação e da nova terra, assumindo-nos, nessa atitude de povo peregrino, ouvintes da Palavra, povo amado e escolhido por Deus. O nosso modelo é Cristo, cuja morte e ressurreição celebramos de forma mais intensa neste tempo da Quaresma. A Quaresma é um sinal de salvação, tempo ideal para fazer a preparação dos catecúmenos que serão baptizados, por tradição na Vigília Pascal. A Quaresma renova a comunidade dos fiéis juntamente com os catecúmenos e os dispõe para a celebração do mistério pascal. Os símbolos, os ritos e gestos quaresmais são atitudes e iniciativas humanas e religiosas que acompanham e enriquecem este tempo e que nos ajudam a viver mais a festa da Páscoa.

As cinzas, a cor roxa e a cruz, símbolos de penitência e conversão próprios deste tempo, tal como o jejum, orienta-nos a despojarmo-nos e a dar mais atenção à palavra de Deus e praticar a caridade, sobretudo com os mais pobres e sofredores ajudando-os a viver com a dignidade de filhos de Deus.

Fr. José Jesus Cardoso, OFM.

domingo, 7 de março de 2010

UM FILHO DA PENAJÓIA

Lamego presta duplo tributo a Joaquim Sarmento
O intenso percurso de vida marcado pelos mais diversos exemplos de cidadania, nomeadamente pelos lugares públicos e políticos que ocupou, e o apreço pela sua considerável e excelente obra cultural e literária fundamentaram a atribuição do mais elevado galardão do Município de Lamego – a Medalha de Ouro da Cidade – a Joaquim Sarmento, passando deste modo a integrar a ilustre plêiade dos Cidadãos Honorários de Lamego. Antigo deputado à Assembleia da República, de 1995 a 2002, e antigo vice-presidente da autarquia, Joaquim Sarmento foi também agraciado com a primeira edição do Prémio de Mérito Cultural, instituído pela Câmara Municipal de Lamego, justificado “pelo alcance e excelência da sua notável obra, mas também como acto de inteira justiça”.

Noticias de Tás-os-Montes./

quarta-feira, 3 de março de 2010

VINDIMAS

Falar de vindimas, em termos actuais, é justificar a preocupação que cada agricultor, pequeno, médio ou grande, tem em armazenar o mais rápido possível a sua colheita, para que, com o Verão que se pode prolongar, se obtenha bom grau e boa qualidade de vinho.Actualmente quase não nos apercebemos desta faina, que sem duvida é das mais belas e das que mais som dava à característica paisagem duriense.Surgiram as Adegas e deixamos de ver e ouvir determinados pontos que caracterizavam os trabalhos da vindima.As máquinas quase substituíram os homens, facilitando também os trabalhos mais duros. Tudo está diferente! Recordando a minha meninice, lembra-me de ver e ouvir as coisas que hoje não se vêem nem ouvem. Por vezes acordava ao som das cantigas que as rogas cantavam debaixo das ramadas mais densas de folhagem ou nos bardos mais típicos das encostas. Eram os bombos, os realejos, as concertinas, as flautas, os instrumentos dos grupos de homens que, embalados em cantigas à desgarrada, conduziam os cestos ao lagar.Á noite faziam-se as «poisas», grupos de homens, por vezes já cansados, que entravam para os lagares a transbordar; em ritmos cadentes cantavam; esquerdo..., direito..., um..., dois... , até altas horas da noite.Vinham as encubas e apertavam-se as prensas e, uma vez mais, homens e braços apertavam as prensas enquanto que um deles dava a cadencia hou... , hou... , hou... , e, com a força muscular corria a jorro o precioso néctar , para depois , à bomba ou em cântaro à cabeça , cair no afamado tonel de madeira, onde « em dia de S. Martinho todos furavam o pipinho.Era assim o tempo da vindima, e será pelo continuar dos tempos, se cada um quiser, e se todos contribuírem para a melhoria e conservação dos valores tradicionais.
Fr. José Jesus Cardoso, ofm

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

EU CÁ SOU DA PENAJÓIA

Penajóia
“De onde és? – Eu cá sou da Penajóia. A espada vai na burra. Se queres alguma coisa salta cá p’ra rua!”

Freguesia do concelho de Lamego, comarca e diocese, pertence ao distrito de Viseu e está situada na bacia hidrográfica do Douro. Penajóia, cujo padroeiro é S. Salvador, ocupa uma área de 10,3 km2 e localiza-se a cerca de 13 km da sede concelhia. Apresenta um acentuado decréscimo populacional que se tem vindo a acentuar desde 1991 até à data, sendo que se passou de 1405 habitantes para 1247. esta situação poder-se-á dever, entre outros factores, à emigração para outros países como França, Suíça, Luxemburgo, Alemanha e Inglaterra.Várias “villas” rústicas reorganizadas na época das invasões germânicas, terão alastrado o povoamento de alguns lugares da actual freguesia. Muitas delas chegaram até a ter cartas de foro privado (Molães, Vila Chã, Pousada, Guidixe e Lagoas), o que se deverá ao facto de estarem relativamente afastadas umas das outras por razões geográficas. Formavam, no entanto, um concelho Medieval com carta de Foral Geral assinada por D. Afonso I. Documento pelo qual se constituía o concelho, se regulava a administração e se indicava os seus limites e privilégios.Penajóia foi vila e couto com justiça própria, mas na segunda metade do séc. XIV, já não possuía regalias municipais, pertencendo à comarca de Lamego. D. Manuel concedeu-lhe foral novamente a 15 de Julho de 1514.

ECOS DE PENAJÓIA (3)

DIZEM OS LIVROS E PAPEIS VELHOS

Nos princípios do século XIX,
ainda a Barca, a Albergaria e a Capela do Moledo tinha um juiz, que era eleito e nomeado pelo Senado de Lamego. A Barca já não era «por Deus», mas «por dinheiro», como contei em Junho do ano passado. Em Novembro de 1843, por portaria do Ministério do Reino ficou a pertencer à Câmara de Lamego a administração das Barcas do Moledo, Carvalho e Bagaúste. Logo que se estabeleceram regulamentos. As barcas não podiam ter menos de setenta palmos «da ôca da ré, à ôca d’ avante», e a tripulação, em «rio alto, não teria menos de seis homens, e em rio baixo três homens» (Era «rio alto» se cobrisse a Junqueira e «rio baixo», se a não cobrisse). Haveria ainda um barco ou rodeiro de vinte e cinco palmos «de ré avante» com 3 homens de tripulação. O barqueiro era obrigado a dar passagem aos particulares «desde a alva até ao fechar da noite; e aos militares em serviço assim como os correios a toda e qualquer hora, sob a responsabilidade de suas pessôas, e das de seus fiadores, e nunca da Câmara». Como é de calcular, fixou-se também uma tabela de preços das passagens. Por pessoas10 réis ; por cavalgadura carregada ou descarregada 20 réis; com carro com bois e carga, ou sem ela 100 réis; por liteira com parelha 160 réis; por sege com parelha 200 réis; por volumes avulsos descarregados nas Barcas 5 réis por arrôba. Estes direitos de passagem dobravam em « rio alto». Por dez réis gostaria de ter passado na Barca do Moledo com a tripulação, tão diversa de passageiros e tão variada de «tralha».(Ecos de Penajóia, E. J. Cordeiro Laranjo)

POESIA

CANCIONEIRINHO de MOLÊDO da PENAJÓIA"...á Dona Ana de Valclaro!

"Vendo tudo quanto tenho,
memória e imaginação,
por cinco reis de alegria
pra dar ao meu coração"

"Não há negro como o melro
não há branco como o leite
as mocinhas do Moledo
têm olhinhos de confeito"

"Moledo da Penajóia
no fundo da freguesia:
à beira do rio é noite,
por cima da terra é dia""

"Vindimai, vindimadores,
ninguém vindima como eu:
a fruta, que vai, é vossa,
o cantar, que fica, é meu."

...poesia popular da freguesia da Penajóia, Lamego, coligida pela poetiza Cecília Meirelles, nos anos trinta do século passado.

ECOS DE PENAJÓIA -( 2)

O que dizem os livros e papeis velhos...
Aqui há uns cem anos, na freguesia de Penajóia, contavam-se quinze clérigos seculares. Nem admira, já que somavam vinte e duas as capelas do povo e as particulares.Santo António era orago das capelas de Pousada, Fornos e Torre. Também havia uma capela do santo taumaturgo português da quinta do Pombal, e outra entre as vinhas, em Vila Chã, onde ficava a capela de Santo António dos Milagres.De S. Francisco era o pequenino santuário do Extremadouro; a ermida de S. Tiago era no alto da Penajóia; a de S. João Baptista tinha a sua casa na quinta das Adegas, como S. Sebastião em Molães.S. José era o senhor da capelinha da Portela; em Molães ficavam, em morada própria, Jesus, Maria e José; e Santa Ana na Quinta das Lagoas.Não contando a Igreja paroquial, dedicada ao Divino Salvador do Mundo, todas as restantes eram de Nossa Senhora.Em S. Geão ficava a Senhora da Encarnação, em capela de três altares; no Santinho, junto ao Douro, era a Senhora da Saúde; no Moledo, administrado pelo senado de Lamego, a Senhora da Ajuda; no Paço a Senhora do Amparo, no Lugar da Portela, venerava-se a Senhora da Piedade; na Quinta de Penim tinha seu trono Nossa Senhora de Ara Vera; na Vila Chã, a Senhora da Conceição; na Corvaceira, nas casas de Manoel Pinto, em capela própria, tinha seu altar Nossa Senhora da Lapa.Há pouco gentilmente foi-me oferecida uma estampa desta Nossa Senhora. Existirão ainda estampa de outras invocações de Nossa Senhora em Penajóia?Quem se lembra hoje desta corte celestial que existia em Penajóia há cem anos.F.J.Cordeiro Laranjo (Ecos de Penajóia).

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

UM RETALHO DE PENAJOÍA

Do cimo da freguesia se avista uma soberba paisagem que os nossos olhos podem admirar desde Mesão-Frio a Vila Real, na margem direita do rio Douro, que passa aos seus pés. Mesmo de frente o majestoso morro da Serra do Marão, que nos delicia, no Inverno, com o seu branco capacete de neve.
Faz parte do distrito de Viseu, concelho e Diocese de Lamego. É atravessada pela estrada Nacional 222, que de Resende ao Pinhão, nos leva a admirar as lindas paisagens deste maravilhoso vale do Douro, com os seus vinhedos e lindas casas solarengas e algumas delas Brasonadas e uma população de tradições católica.
Ao centro da freguesia tem o Edifício da Junta, onde funciona o Centro de Saúde e posto de Correios, sendo a distribuição feita ao domicilio. Tem cafés, e comércio de bens alimentares feito por vendedores ambulantes,uma Adega Cooperativa Vinícula, algumas empresas de construção civil, Turismo de Habitação Rural, fruticultura e uma de Desinfecções e Peste Controle. Na agricultura, temos a produção das uvas para se fazer o vinho de mesa e o delicioso vinho do Porto, assim como, uma agricultura de subsistência com a produção de alguma fruta, entre elas, as deliciosas cerejas . Desta forma são muitas actividades das gentes desta terra: rabalhadores de vinha, que sulfatam, podam, cavam e vindimam, artesãos carpinteiros, ramadistas, trolhas, pedreiros, tamanqueiros, cesteiros, tecedeiras, cantoneiros, barbeiros, tanueiros e moleiros.
Os grandes empregadores destas gentes, eram as grandes Quintas de Penajóia e as freguesias vizinhas. Hoje, além destas actividades que já quase desapareceram, há o comércio de cafés e vendedores ambulantes, embora tenha chegado, até aos nossos dias, dois grandes rebanhos, um de ovelhas, no lugar da Torre e outro de Cabras no Lugar de Pousada, onde existia o comércio de queijo frescos.
O pessoal válido para trabalhar procura trabalho fora e noutras ocupações, tais com a industria, comércio e serviços. Os jovens que estudam tiram os seus cursos e ficam nos grandes centros, onde com mais facilidade encontram emprego para as suas especialidades.
As gentes da nossa terra, sempre demonstraram um grande sentido de comunidade e partilha. Sempre prontos na ajuda a qualquer Obra Social. A dispersão de Lugares, impede maior unidade nos trabalhos e projectos comuns. De notar, que todos têm quase uma relação famíliar, pelo menos no perímetro de cada lugar. Também não falta a alegria do seu Folclore e com o seu belo Rancho, já instituido e sempre presente não falta nas festas e romarias. Ainda, e para boa organização das festas e actos religiosos, lá estão os Escuteiros, instituidos e com sede na freguesia.
No alto da serra, onde nasce o ribeiro Cabril, há uma rocha muito grande a que o povo desde tempos remotos, chama castelo. Dele se contam algumas lendas. Ali se respira ar puro e se avista uma deslumbrante paisagem, porque aqui ainda se não conhecem marcas negativas do progresso. A zona é mesmo bonita. Cerca daqui chegam as vinhas sempre a subirem em socalco desde o rio Douro, parecem soldados em parada no seu alinhamento de cepas velhas já retrocidadas pelos muitos anos a darem o delicioso néctar do vinho generoso, trabalhado por mãos calejadas de gente que sofre os rigores do Inverno e o sol escaldante do Verão. Cá no alto do monte, reinam as giestas de flores amarelas e brancas e alguns castanheiros, porque os grandes soutos, foram sacrificados pelo valor da sua madeira.
Para se chegar à Serra, passamos por certos caminhos, onde as silvas com as suas amoras fazem no Verão as delícias de quem as comem.
Fauna Regional
Por aqui se vêem, animais bravios: raposas, javalis, coelhos bravos, texugos, sardaniscas, cobras, borboletas, louva-a-Deus, grilos, cigarras, perdizes, gaios e milhafres, bandos de pardais, andorinhas, piscos, verdilhões, cotovias, pintassilgos, cucos, poupas, melros, rolas e papa-figos, estes já em vias e instinção. Nos ribeiros e rio, vemos peixes de várias espécies, cobras de água, libelinhas, rãs, lontras e patos bravos. As noites prolongadas de Inverno e as de Verão com o céu limpo e estrelado, ajudam a encontrar bem as constelações visíveis do nosso hemisférico, por vezes um contraste com o ar pesado e triste das pessoas que vão mudando o seu semblante conforme o tempo de frio, calor ou chuva. A esta alegria generalizada acresce a visita anual dos filhos da terra que nas férias vêm até à aldeia, para marcarem presença nas romarias e festa da terra.
Fr. José Jesus Cardoso, OFM.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

PEQUENO VOCABULÁRIO DE PENAJÓIA


EXPRESSÕES DA NOSSA TERRA

Para chamar:

O Gato -------- Bichinho, bich, bich!

O Cão --------- Boca!

Para enxotar galinhas ------- Xô pitas! Xô!

Para enxotar o gato --------- Sap gato!

Para enxotar o cão ---------- Fora cão!

Para concordar sem certeza – Estou que sim!

Para discordar sem certeza _ Estou que não!

Para significar Talvez ----------- Acho que!

Para significar ou seja ---------- Quer-se dizer!

PEQUENO VOCABULÁRIO LOCAL

Atupir ------ Cobrir a terra

Azangar ------ Saltar por cima de…

Arrais ---------- Homem que conduzia os barcos rebelos.

Barqueiro ----Homem que levava o barco.

Botar -------- Pôr (deitar)

Botelha ----- Abóbora.

Bufar -------- Soprar

Bulhar ------ Zaragatear.

Bulha ------- Andar à tareia

Cardanheiro – Homem rude, do campo.

Cavador ------- Homem que cava a vinha.

Cambado ------ Uma pessoa que anda torta.

Cambo ---------- Pau que serve para puxar ramos de árvores.

Candeia --------- Luz de petróleo ou de azeite.

Chamiça --------- Pequenos ramos e restos de plantas.

Chuço ------------ Pau aguçado para plantar couves.

Colmo ------------ Molho de palha de centeio.

Capão --------- Pequeno molho de vides cortadas.

Espanpar ----- Tirar folhas nas videiras.

Engaço -------- Ancinho.

Entrudo ------- Carnaval.

Enxergar --- Ver, olhar.

Estrugido ------ Refogado.

Feitos ------------ Fetos.

Forcado -------- Forquilha em pau com forma de (V).

Fumega -------- Deitar fumo.

Fumeiro ------- Local onde se defumam os salpicões.

Foice ----------- Cutelo, enfiado num pau para cortar silvas.

Gasalho ------- Cogumelo.

Gavela --------- Pequeno molho de lenha.

Gadanha ----- Concha para tirar o caldo do pote de ferro.

Granjeio ---- Fazer o trabalho da vinha.

Loja ------------ Curral do porco.

Lamparina --- Luz de azeite.

Luze-cus ------ Pirilampos.

Maias ---------- Flores de giestas amarelas.

Magnórios ---- Nesperas

Meda ---------- Montão cónico (lenha, estrume, .etc.).

Nena ---------- Boneca de pano.

Nanar --------- Dormir.

Peneireiro --- Milhafre.

Pilheiro ------ Lugar para guardar lenha.

Pinchar ------- Saltar.

Pita ------------ Galinha

Pular ---------- Saltitar.

Pote ----------- Panela de ferro com três pernas.

Roga ---------- Grupo de pessoas para a vindima.

Redrar ------ Cava pouco profunda para tirar as ervas

Saltarico ------ Gafanhoto.

Sardanisca ---- Lagartixa.

Cegada -------- Ceifa.

Ceitoira --------- Foice.

Sertã ------------- Frigideira.

Socos ------------ Tamancos.

Soquetes -------- Meias de mulher.

Testo ------------- Tampa da panela.

Vencilho --------- Atilho, feito de vime ou vide.

Varrido ----------- Louco.

Tudo farei o que estiver ao meu alcance. Quem conhecer mais diga!

Fr. José Jesus cardoso, OFM.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

TRADIÇÕES E DEVOÇÕES

Para além do padroeiro S. Salvador, Nossa Senhora de Fátima, Senhora da Piedade, Senhora da Ajuda, Santo António, Senhor dos Milagres e S. Sebastião, foram dos santos preferidos das gentes de Penajóia que viam nestes os grandes protectores para os seus males. Mas a devoção do Penajoiense volta-se em primeiro lugar para Santíssimo Salvador e Nossa Senhora. Devoção mariana manifesta-se numa série de tradições arreigadas no povo de Penajóia até aos dias de hoje:

- As Trindades: Costume de rezar, três vezes ao dia, ao toque das "Avé Marias" ou "Trindades". Ao toque das Trindades todos os trabalhos paravam. Os homens tiravam o chapéu e começava a oração, sempre orientada pelo pai ou pessoa mais velha.


- Reza do Terço:


No tempo em que a televisão ainda não tinha roubado o tempo aos serões familiares, a recitação do terço era uma componente obrigatória dessas noites compridas da aldeia. No final da recitação do terço propriamente dito, a preceder a Salve Rainha, tinha lugar um espaço de orações particulares, pelos entes falecidos e outras intenções, em que se repetiam orações populares não oficiais transmitidas oralmente de geração em geração. A lista de santos, devoções e obrigações era geralmente bem longa, provocando a impaciência dos mais novos, mas de modo nenhum esta piedade se tornava maçadora, num tempo em que os serões davam tempo para tudo. Até porque, enquanto se iam dedilhando as contas do rosário, as mulheres iam ocupando as mãos a fazer meias e outros trabalhos manuais.

Quarenta horas: Enquanto o mundo dava espaço a todos os excessos do carnaval, antes de entrar na quaresma, os devotos de Penajóia reuniam-se durante dois dias para desagravar os pecados do mundo e preparar a entrada na quaresma. Tradições que se vão diluindo com o progresso.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

ECOS DE PENAJÓIA


terça-feira, 19 de janeiro de 2010

AS GENTES DA PENAJÓIA


Pela sua majestosa área e paisagem ao longo do rio Douro, quis Deus que um dia germina-se esta pobre criatura igualzinha a tantas outras que por aqui nasceram, entre leiras, penedias, carreiros e vinhedos em socalcos, a partir do rio até ao monte.

Nomes de figuras que ainda hoje existem na minha memória e outros que vão esquecendo. Tantos meus Deus! Muitos saídos a partir de uma côdea de pão de milho com toucinho de porco ou de uma sardinhita assada… milagre que saciava a fome com o pão-nosso de cada dia daqueles que o procuram desde que o sol nasce, até que se volte a por, sobe o peso da enxada com suas mãos calejadas e vergastadas pelos ricos desta terra. Quer chovesse quer nevasse, ou nos Verões quentes que nem o castigo para maiores dos condenados ao inferno, lá tinham de penar vergados a cavar a vinha. A vida nesta terra era muito dura. As pessoas fustigadas por nortadas e trabalhos, vivendo em casas alumiadas à luz de candeias de petróleo ou de azeite, afundadas pelo silêncio do medo doentio das pessoas do poder.


Recordo crianças que morriam quase à nascença, mal viam a luz do mundo. Baptizadas à pressa. Morriam; lá vai mais um anjinho, coitado, vai acolitado até ao cemitério pela pequenada das crianças da Cruzada Eucarística num caixãozinho branco, caldeirinha da água-benta e cruz à frente e o prior da freguesia.


A gente desta terra é religiosa, mas duma religiosidade mais litúrgica do que interior, proselitista porque gostam de ver os outros a professar o seu credo, mas com algum fanatismo. A religiosidade existe nestas gentes como espécie de tradição; é assim porque os seus antepassados foram assim, (chama-se religião sem fé). Encaram o céu como uma vinha que exige certos cuidados, e muito tino, se querem ter os seus pecados perdoados.


A superstição desta gente é como os cogumelos que se desenvolvem no tronco das velhas árvores e são gelatinosos e nada de peçonhentos.


A vida social desta terra acaba sempre reduzida a cerimónias de Igreja. Qualquer prática profana acaba sempre em água-benta, votos, romarias e arraiais, espraiando-se o instinto tiranizante onde não falta a sociabilidade e confraternização. O Penajoiense, não desassocia o religioso do social, faz parte da índole das gentes beirãs, porque o seu optimismo é saudável e é uma pedra basilar das mais imagináveis tertúlias.


É uma gente dotada de coração paciente, são mais sofredores que sofridos. Se está em jogo a sua dignidade ou o que julga ser direito, ei-lo assanhado, como o atestam as memórias lendárias dos livros velhos.


O povo de Penajóia sempre gostou muito de romarias. Os santuários de destino preferidos são, desde longe, os de Nª. Sª da Lapa, Nª Sª dos Remédios e Santuário de Fátima na Cova da Iria.


Fr. José Jesus Cardoso, OFM.



quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

FAMOSOS E SUPER-HERÓIS


Cristiano Ronaldo e Michael Jackson, têm ocupado, nos últimos tempos, as colunas dos jornais de todo o mundo e nas antenas da televisão. Foram motivo de estrondoso regozijo e de lágrimas que davam para encher um rio e cansaram gente sem conta.
O Ronaldo, futebolista com arte no futebol e pelas suas amorosas loucuras, custou quase 100 milhões de Euros ao Clube que o contratou em Espanha ou alguém que dele espera tirar dividendos. Um escândalo de negócio que os jornais vão falando, em excessos que ofendem. O Clube que o comprou tem dívidas de 500 milhões! Mas o futebolista, ídolo de multidões, diz sem pejo, que ele vale mais do que o clube pagou...
Quanto ao Rei da música pop, uma morte inesperada, astuciosamente aproveitada para por as vendas dos seus discos no topo, perpetuar a sua memória e fazer contratos com as televisões.
Tão rico ele era, como se dizia, viu-se agora as suas dívidas de centenas de milhões. Fizeram-lhe um funeral faraónico multidões em histeria e os críticos não param de opinar sobre estes ídolos, tornados em super-heróis, num mundo que perdeu o rumo do essencial.
Sempre que o homem ou mulher se esquece da sua verdadeira grandeza, escraviza-se a si mesmo ou outros o fazem escravos.
A grandeza do homem está na normalidade do que se é, se assume e se vive, não num alarido alienante.
Ganhar muito e ser famoso, sem esforço e depressa, é o ideal de muita gente. O mal e o bem não têm fronteiras proporias. Fronteiras só as que se localizam no coração de cada um e este só se abre por dentro e a chave, tem-na cada um na sua própria mão.

Fr. José de Jesus Cardoso

 
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