sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

EU CÁ SOU DA PENAJÓIA

Penajóia
“De onde és? – Eu cá sou da Penajóia. A espada vai na burra. Se queres alguma coisa salta cá p’ra rua!”

Freguesia do concelho de Lamego, comarca e diocese, pertence ao distrito de Viseu e está situada na bacia hidrográfica do Douro. Penajóia, cujo padroeiro é S. Salvador, ocupa uma área de 10,3 km2 e localiza-se a cerca de 13 km da sede concelhia. Apresenta um acentuado decréscimo populacional que se tem vindo a acentuar desde 1991 até à data, sendo que se passou de 1405 habitantes para 1247. esta situação poder-se-á dever, entre outros factores, à emigração para outros países como França, Suíça, Luxemburgo, Alemanha e Inglaterra.Várias “villas” rústicas reorganizadas na época das invasões germânicas, terão alastrado o povoamento de alguns lugares da actual freguesia. Muitas delas chegaram até a ter cartas de foro privado (Molães, Vila Chã, Pousada, Guidixe e Lagoas), o que se deverá ao facto de estarem relativamente afastadas umas das outras por razões geográficas. Formavam, no entanto, um concelho Medieval com carta de Foral Geral assinada por D. Afonso I. Documento pelo qual se constituía o concelho, se regulava a administração e se indicava os seus limites e privilégios.Penajóia foi vila e couto com justiça própria, mas na segunda metade do séc. XIV, já não possuía regalias municipais, pertencendo à comarca de Lamego. D. Manuel concedeu-lhe foral novamente a 15 de Julho de 1514.

ECOS DE PENAJÓIA (3)

DIZEM OS LIVROS E PAPEIS VELHOS

Nos princípios do século XIX,
ainda a Barca, a Albergaria e a Capela do Moledo tinha um juiz, que era eleito e nomeado pelo Senado de Lamego. A Barca já não era «por Deus», mas «por dinheiro», como contei em Junho do ano passado. Em Novembro de 1843, por portaria do Ministério do Reino ficou a pertencer à Câmara de Lamego a administração das Barcas do Moledo, Carvalho e Bagaúste. Logo que se estabeleceram regulamentos. As barcas não podiam ter menos de setenta palmos «da ôca da ré, à ôca d’ avante», e a tripulação, em «rio alto, não teria menos de seis homens, e em rio baixo três homens» (Era «rio alto» se cobrisse a Junqueira e «rio baixo», se a não cobrisse). Haveria ainda um barco ou rodeiro de vinte e cinco palmos «de ré avante» com 3 homens de tripulação. O barqueiro era obrigado a dar passagem aos particulares «desde a alva até ao fechar da noite; e aos militares em serviço assim como os correios a toda e qualquer hora, sob a responsabilidade de suas pessôas, e das de seus fiadores, e nunca da Câmara». Como é de calcular, fixou-se também uma tabela de preços das passagens. Por pessoas10 réis ; por cavalgadura carregada ou descarregada 20 réis; com carro com bois e carga, ou sem ela 100 réis; por liteira com parelha 160 réis; por sege com parelha 200 réis; por volumes avulsos descarregados nas Barcas 5 réis por arrôba. Estes direitos de passagem dobravam em « rio alto». Por dez réis gostaria de ter passado na Barca do Moledo com a tripulação, tão diversa de passageiros e tão variada de «tralha».(Ecos de Penajóia, E. J. Cordeiro Laranjo)

POESIA

CANCIONEIRINHO de MOLÊDO da PENAJÓIA"...á Dona Ana de Valclaro!

"Vendo tudo quanto tenho,
memória e imaginação,
por cinco reis de alegria
pra dar ao meu coração"

"Não há negro como o melro
não há branco como o leite
as mocinhas do Moledo
têm olhinhos de confeito"

"Moledo da Penajóia
no fundo da freguesia:
à beira do rio é noite,
por cima da terra é dia""

"Vindimai, vindimadores,
ninguém vindima como eu:
a fruta, que vai, é vossa,
o cantar, que fica, é meu."

...poesia popular da freguesia da Penajóia, Lamego, coligida pela poetiza Cecília Meirelles, nos anos trinta do século passado.

ECOS DE PENAJÓIA -( 2)

O que dizem os livros e papeis velhos...
Aqui há uns cem anos, na freguesia de Penajóia, contavam-se quinze clérigos seculares. Nem admira, já que somavam vinte e duas as capelas do povo e as particulares.Santo António era orago das capelas de Pousada, Fornos e Torre. Também havia uma capela do santo taumaturgo português da quinta do Pombal, e outra entre as vinhas, em Vila Chã, onde ficava a capela de Santo António dos Milagres.De S. Francisco era o pequenino santuário do Extremadouro; a ermida de S. Tiago era no alto da Penajóia; a de S. João Baptista tinha a sua casa na quinta das Adegas, como S. Sebastião em Molães.S. José era o senhor da capelinha da Portela; em Molães ficavam, em morada própria, Jesus, Maria e José; e Santa Ana na Quinta das Lagoas.Não contando a Igreja paroquial, dedicada ao Divino Salvador do Mundo, todas as restantes eram de Nossa Senhora.Em S. Geão ficava a Senhora da Encarnação, em capela de três altares; no Santinho, junto ao Douro, era a Senhora da Saúde; no Moledo, administrado pelo senado de Lamego, a Senhora da Ajuda; no Paço a Senhora do Amparo, no Lugar da Portela, venerava-se a Senhora da Piedade; na Quinta de Penim tinha seu trono Nossa Senhora de Ara Vera; na Vila Chã, a Senhora da Conceição; na Corvaceira, nas casas de Manoel Pinto, em capela própria, tinha seu altar Nossa Senhora da Lapa.Há pouco gentilmente foi-me oferecida uma estampa desta Nossa Senhora. Existirão ainda estampa de outras invocações de Nossa Senhora em Penajóia?Quem se lembra hoje desta corte celestial que existia em Penajóia há cem anos.F.J.Cordeiro Laranjo (Ecos de Penajóia).

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

UM RETALHO DE PENAJOÍA

Do cimo da freguesia se avista uma soberba paisagem que os nossos olhos podem admirar desde Mesão-Frio a Vila Real, na margem direita do rio Douro, que passa aos seus pés. Mesmo de frente o majestoso morro da Serra do Marão, que nos delicia, no Inverno, com o seu branco capacete de neve.
Faz parte do distrito de Viseu, concelho e Diocese de Lamego. É atravessada pela estrada Nacional 222, que de Resende ao Pinhão, nos leva a admirar as lindas paisagens deste maravilhoso vale do Douro, com os seus vinhedos e lindas casas solarengas e algumas delas Brasonadas e uma população de tradições católica.
Ao centro da freguesia tem o Edifício da Junta, onde funciona o Centro de Saúde e posto de Correios, sendo a distribuição feita ao domicilio. Tem cafés, e comércio de bens alimentares feito por vendedores ambulantes,uma Adega Cooperativa Vinícula, algumas empresas de construção civil, Turismo de Habitação Rural, fruticultura e uma de Desinfecções e Peste Controle. Na agricultura, temos a produção das uvas para se fazer o vinho de mesa e o delicioso vinho do Porto, assim como, uma agricultura de subsistência com a produção de alguma fruta, entre elas, as deliciosas cerejas . Desta forma são muitas actividades das gentes desta terra: rabalhadores de vinha, que sulfatam, podam, cavam e vindimam, artesãos carpinteiros, ramadistas, trolhas, pedreiros, tamanqueiros, cesteiros, tecedeiras, cantoneiros, barbeiros, tanueiros e moleiros.
Os grandes empregadores destas gentes, eram as grandes Quintas de Penajóia e as freguesias vizinhas. Hoje, além destas actividades que já quase desapareceram, há o comércio de cafés e vendedores ambulantes, embora tenha chegado, até aos nossos dias, dois grandes rebanhos, um de ovelhas, no lugar da Torre e outro de Cabras no Lugar de Pousada, onde existia o comércio de queijo frescos.
O pessoal válido para trabalhar procura trabalho fora e noutras ocupações, tais com a industria, comércio e serviços. Os jovens que estudam tiram os seus cursos e ficam nos grandes centros, onde com mais facilidade encontram emprego para as suas especialidades.
As gentes da nossa terra, sempre demonstraram um grande sentido de comunidade e partilha. Sempre prontos na ajuda a qualquer Obra Social. A dispersão de Lugares, impede maior unidade nos trabalhos e projectos comuns. De notar, que todos têm quase uma relação famíliar, pelo menos no perímetro de cada lugar. Também não falta a alegria do seu Folclore e com o seu belo Rancho, já instituido e sempre presente não falta nas festas e romarias. Ainda, e para boa organização das festas e actos religiosos, lá estão os Escuteiros, instituidos e com sede na freguesia.
No alto da serra, onde nasce o ribeiro Cabril, há uma rocha muito grande a que o povo desde tempos remotos, chama castelo. Dele se contam algumas lendas. Ali se respira ar puro e se avista uma deslumbrante paisagem, porque aqui ainda se não conhecem marcas negativas do progresso. A zona é mesmo bonita. Cerca daqui chegam as vinhas sempre a subirem em socalco desde o rio Douro, parecem soldados em parada no seu alinhamento de cepas velhas já retrocidadas pelos muitos anos a darem o delicioso néctar do vinho generoso, trabalhado por mãos calejadas de gente que sofre os rigores do Inverno e o sol escaldante do Verão. Cá no alto do monte, reinam as giestas de flores amarelas e brancas e alguns castanheiros, porque os grandes soutos, foram sacrificados pelo valor da sua madeira.
Para se chegar à Serra, passamos por certos caminhos, onde as silvas com as suas amoras fazem no Verão as delícias de quem as comem.
Fauna Regional
Por aqui se vêem, animais bravios: raposas, javalis, coelhos bravos, texugos, sardaniscas, cobras, borboletas, louva-a-Deus, grilos, cigarras, perdizes, gaios e milhafres, bandos de pardais, andorinhas, piscos, verdilhões, cotovias, pintassilgos, cucos, poupas, melros, rolas e papa-figos, estes já em vias e instinção. Nos ribeiros e rio, vemos peixes de várias espécies, cobras de água, libelinhas, rãs, lontras e patos bravos. As noites prolongadas de Inverno e as de Verão com o céu limpo e estrelado, ajudam a encontrar bem as constelações visíveis do nosso hemisférico, por vezes um contraste com o ar pesado e triste das pessoas que vão mudando o seu semblante conforme o tempo de frio, calor ou chuva. A esta alegria generalizada acresce a visita anual dos filhos da terra que nas férias vêm até à aldeia, para marcarem presença nas romarias e festa da terra.
Fr. José Jesus Cardoso, OFM.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

PEQUENO VOCABULÁRIO DE PENAJÓIA


EXPRESSÕES DA NOSSA TERRA

Para chamar:

O Gato -------- Bichinho, bich, bich!

O Cão --------- Boca!

Para enxotar galinhas ------- Xô pitas! Xô!

Para enxotar o gato --------- Sap gato!

Para enxotar o cão ---------- Fora cão!

Para concordar sem certeza – Estou que sim!

Para discordar sem certeza _ Estou que não!

Para significar Talvez ----------- Acho que!

Para significar ou seja ---------- Quer-se dizer!

PEQUENO VOCABULÁRIO LOCAL

Atupir ------ Cobrir a terra

Azangar ------ Saltar por cima de…

Arrais ---------- Homem que conduzia os barcos rebelos.

Barqueiro ----Homem que levava o barco.

Botar -------- Pôr (deitar)

Botelha ----- Abóbora.

Bufar -------- Soprar

Bulhar ------ Zaragatear.

Bulha ------- Andar à tareia

Cardanheiro – Homem rude, do campo.

Cavador ------- Homem que cava a vinha.

Cambado ------ Uma pessoa que anda torta.

Cambo ---------- Pau que serve para puxar ramos de árvores.

Candeia --------- Luz de petróleo ou de azeite.

Chamiça --------- Pequenos ramos e restos de plantas.

Chuço ------------ Pau aguçado para plantar couves.

Colmo ------------ Molho de palha de centeio.

Capão --------- Pequeno molho de vides cortadas.

Espanpar ----- Tirar folhas nas videiras.

Engaço -------- Ancinho.

Entrudo ------- Carnaval.

Enxergar --- Ver, olhar.

Estrugido ------ Refogado.

Feitos ------------ Fetos.

Forcado -------- Forquilha em pau com forma de (V).

Fumega -------- Deitar fumo.

Fumeiro ------- Local onde se defumam os salpicões.

Foice ----------- Cutelo, enfiado num pau para cortar silvas.

Gasalho ------- Cogumelo.

Gavela --------- Pequeno molho de lenha.

Gadanha ----- Concha para tirar o caldo do pote de ferro.

Granjeio ---- Fazer o trabalho da vinha.

Loja ------------ Curral do porco.

Lamparina --- Luz de azeite.

Luze-cus ------ Pirilampos.

Maias ---------- Flores de giestas amarelas.

Magnórios ---- Nesperas

Meda ---------- Montão cónico (lenha, estrume, .etc.).

Nena ---------- Boneca de pano.

Nanar --------- Dormir.

Peneireiro --- Milhafre.

Pilheiro ------ Lugar para guardar lenha.

Pinchar ------- Saltar.

Pita ------------ Galinha

Pular ---------- Saltitar.

Pote ----------- Panela de ferro com três pernas.

Roga ---------- Grupo de pessoas para a vindima.

Redrar ------ Cava pouco profunda para tirar as ervas

Saltarico ------ Gafanhoto.

Sardanisca ---- Lagartixa.

Cegada -------- Ceifa.

Ceitoira --------- Foice.

Sertã ------------- Frigideira.

Socos ------------ Tamancos.

Soquetes -------- Meias de mulher.

Testo ------------- Tampa da panela.

Vencilho --------- Atilho, feito de vime ou vide.

Varrido ----------- Louco.

Tudo farei o que estiver ao meu alcance. Quem conhecer mais diga!

Fr. José Jesus cardoso, OFM.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

TRADIÇÕES E DEVOÇÕES

Para além do padroeiro S. Salvador, Nossa Senhora de Fátima, Senhora da Piedade, Senhora da Ajuda, Santo António, Senhor dos Milagres e S. Sebastião, foram dos santos preferidos das gentes de Penajóia que viam nestes os grandes protectores para os seus males. Mas a devoção do Penajoiense volta-se em primeiro lugar para Santíssimo Salvador e Nossa Senhora. Devoção mariana manifesta-se numa série de tradições arreigadas no povo de Penajóia até aos dias de hoje:

- As Trindades: Costume de rezar, três vezes ao dia, ao toque das "Avé Marias" ou "Trindades". Ao toque das Trindades todos os trabalhos paravam. Os homens tiravam o chapéu e começava a oração, sempre orientada pelo pai ou pessoa mais velha.


- Reza do Terço:


No tempo em que a televisão ainda não tinha roubado o tempo aos serões familiares, a recitação do terço era uma componente obrigatória dessas noites compridas da aldeia. No final da recitação do terço propriamente dito, a preceder a Salve Rainha, tinha lugar um espaço de orações particulares, pelos entes falecidos e outras intenções, em que se repetiam orações populares não oficiais transmitidas oralmente de geração em geração. A lista de santos, devoções e obrigações era geralmente bem longa, provocando a impaciência dos mais novos, mas de modo nenhum esta piedade se tornava maçadora, num tempo em que os serões davam tempo para tudo. Até porque, enquanto se iam dedilhando as contas do rosário, as mulheres iam ocupando as mãos a fazer meias e outros trabalhos manuais.

Quarenta horas: Enquanto o mundo dava espaço a todos os excessos do carnaval, antes de entrar na quaresma, os devotos de Penajóia reuniam-se durante dois dias para desagravar os pecados do mundo e preparar a entrada na quaresma. Tradições que se vão diluindo com o progresso.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

ECOS DE PENAJÓIA


 
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